Sobre as dificuldades amorosas
Que duas pessoas se amem, não significa que o que há entre elas seja o suficiente para que fiquem juntas.
O incompreensível do amor nos desperta para o que há de misterioso e indomesticável em cada um de nós.
Afinal de contas, qual é a lógica que sustenta o despertar do amor de uma pessoa por outra, se o amor não se apóia em fórmulas, explicações ou compreensões? Qual é o sentido que há em uma pessoa específica despertar Alascas na barriga do outro e todas as outras pessoas não? Se por um lado o amor (pelas vias da reciprocidade) pode nos apaziguar dores existenciais e da alma, por outro lado (pelas vias da pulsão) o amor pode nos despertar para aquilo que há de mais obscuro em cada um de nós, atestando a fragilidade do romantismo.
O problema do amor romântico é a idealização de que o amor completa. É ao contrário, o amor nos dá notícias, pela via da castração, da falta de cada um. Ninguém se sente mais incompleto do que um amante.Assim, diferentemente do fato de duas pessoas se amarem ser o suficiente para que fiquem juntas, o amor pode causar muito sofrimento e, por isso, defesas.
Há, inclusive, quem não consiga ficar com uma pessoa, justamente por amá-la.
Para alguns, só é possível sustentar um relacionamento com quem não se ama, pois o amor, pela convocação que faz à pulsão e ao gozo, complica tudo.
Daí a enorme dificuldade de conjugar desejo e gozo, que, segundo Lacan, só é possível de se fazer pela via do amor.