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Setembro Amarelo


SETEMBRO AMARELO

Setembro é o mês da conscientização da prevenção ao suicídio.

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. No Brasil, entre os jovens, há mais mortes por suicídio do que por HIV e violência. O suicídio só perde para os acidentes de trânsito, que têm um índice de mortes ainda maior.

Então, é de extrema importância falar sobre isso, visto que, nosso meio de maior amplitude de discussões sobre os assuntos têm sido colocados pela mídia. E a mídia tem uma série de restrições para por este assunto em pauta. Parte-se do princípio de que falar sobre suicídio poderia incentivar as pessoas a tirarem suas vidas.

Diferentemente disso, o que a psicanálise nos mostra, é que, embora há que se tomar cuidado com os efeitos das identificações, é justamente quando não se pode falar sobre algo, que este algo ganha mais força. Quanto maior a força do recalque, maior a força da pulsão.

Daí a importância de falarmos, sim, sobre a tristeza, a depressão, os lutos não elaborados, a melancolia, a vontade de morrer, o suicídio.

Viver não é natural para nós, humanos. Devido a ausência do instinto, seguimos um tanto errantes pela vida, já que a vida não traz consigo um sentido que lhe seja intrínseco. Assim, cabe a cada um de nós construirmos sentidos próprios para as nossas vidas.

As fantasias de morte fazem parte da constituição do aparelho psíquico, por isso todo mundo, ou quase todo mundo, já imaginou como seria seu velório, a falta que as pessoas poderiam sentir de nós etc.

Mas há quem tenha o sentido da vida seriamente rompido (ou nunca construído), e que fique buscando no laço com os outros modos de restabelecimento do desejo de viver.

Por isso, é muito, muito, mas muito mesmo, importante, desconstruirmos um dito do senso-comum, o de que "quem vai se matar não avisa, vai lá e faz, se a pessoa tá dizendo que quer morrer, que vai se matar, é porque não vai." Escuto isso frequentemente em conversas cotidianas e também de quem começa a estudar psicologia. É um perigo enorme levarmos esse dito a sério. Quem que morrer, muitas vezes pede ajuda, sim. Da maneira que pode.

O desejo de viver, de algum modo, mora em todo aquele que está vivo. Porém, isso não impede que ele entre em conflito com a falta de sentido da vida, e até mesmo com a vontade de morrer.

Geralmente, nós recalcamos os desejos de morte (e só falamos disso em análise ou em conversas onde há muita intimidade), mas que algo esteja recalcado não significa que tenha deixado de existir.

Aí, escutar o sofrimento do outro, pode ser extremante incômodo, por dar notícias do sofrimento recalcado de cada um.

Seria mais fácil mesmo se quem quisesse morrer, nunca desse sinais disso, nunca mostrasse tristeza, jamais pedisse ajuda, se quem quisesse morrer simplesmente morresse mesmo. Porque aí, não teríamos que nos haver com certa sensação de responsabilidade e de impotência por não ter podido ajudar o outro.

Mas dados da OMS mostram que 9 em cada 10 suicídios poderiam ter sido evitados. No Brasil, 32 pessoas por dia cometem suicídio.

Portanto, falar disso não é bonito, não é confortável, não é bacana, não é sedutor, mas é necessário.

É preciso que possamos suportar escutar minimamente o outro, para além do nosso narcisismo cotidiano, que parece nos exigir tanto.

Olhar nos olhos, prestar atenção, ouvir as palavras, recomendar psicoterapia, recomendar análise, suportar certa falta de sentido e até mesmo nos deixarmos angustiar um tanto pelo sofrimento do outro e principalmente pelo nosso (que não é tão diferente assim). Não para resolver os problemas da pessoa, mas para que a tristeza receba algum acolhimento em nosso laço social. É importante que a tristeza também tenha lugar em nossas vidas.

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