A palavra na psicoterapia
- Walter Miez
- há 3 dias
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Na psicoterapia, a fala ocupa um lugar central no processo de cura. Falar é muito mais do que narrar fatos: é dar forma, som e corpo ao que, muitas vezes, está silenciado, desorganizado ou inconsciente. Ao colocarmos em palavras aquilo que sentimos, pensamos ou repetimos sem perceber, algo se move, e essa movimentação é transformadora.
A fala cria fendas no que parecia rígido e quando esses afetos são nomeados, eles perdem parte de sua opacidade. Não é que o sintoma desapareça como mágica, mas ele deixa de ser uma sombra que nos encobre e começa a se tornar algo com o qual podemos dialogar. Falando, nos damos conta. E ao nos darmos conta, podemos desmontar.
A palavra, então, não é apenas comunicação. É intervenção. Quando nomeamos algo, passamos a ter uma nova perspectiva sobre ele. Deixamos de estar em posição subjugada diante do sintoma, e passamos a encará-lo de igual para igual. Começamos a reconhecer quando entramos em um ciclo de repetição, quando revivemos padrões antigos, e essa consciência nos devolve a possibilidade de escolha.
A fala, nesse sentido, não cura porque elimina, mas porque revela. Ela nos dá ferramentas para criar alternativas, testar outros caminhos, inventar saídas que antes não pareciam possíveis. E, acima de tudo, falar é um ato de presença: ao escutar a si mesmo com o outro, criamos espaços internos onde cabem mais de nós, com nossas contradições, desejos, medos e potências.
Assim, na psicoterapia, a cura não é o fim do sofrimento, mas a transformação da relação que temos com ele. É o início de uma outra forma de estar com o que nos habita.
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