Distorções
- Walter Miez
- 14 de mar.
- 1 min de leitura

Às vezes, nossa percepção funciona como uma balança desregulada: damos peso demais a coisas triviais enquanto negligenciamos questões que realmente exigem atenção. Ao fazer isso, criamos uma distorção na realidade. Pequenos detalhes são hiperdimensionados, ocupando nossa mente e energia, enquanto aspectos fundamentais passam despercebidos, hipodimensionados, como se fossem insignificantes. Esse desequilíbrio não é por acaso; muitas vezes, ele surge como uma forma de esquiva, um mecanismo inconsciente para evitar ou adiar aquilo que sabemos que precisamos enfrentar.
Ignorar o essencial é uma estratégia que pode parecer confortável no curto prazo, mas que frequentemente se transforma em um problema maior. O que poderia ser resolvido com uma conversa, uma decisão ou um ajuste, ao ser postergado, começa a ganhar novos contornos. Pequenos incômodos se tornam implicâncias inesperadas. Desafios administráveis transformam-se em desconfortos constantes. O receio de agir cresce como juros no cartão de crédito: invisível a princípio, mas inevitável e cumulativo.
Esse comportamento pode ser alimentado por medos – de falhar, de enfrentar verdades difíceis ou de lidar com as consequências de nossas ações. Assim, focamos em distrações ou criamos problemas onde não existem, simplesmente para evitar o que importa. Mas essa fuga tem um custo: a realidade não espera. Aquilo que não é cuidado se desenvolve, ganha força e exige cada vez mais energia para ser resolvido.
É preciso coragem para ajustar o foco, recalibrar prioridades e cuidar do que precisa de atenção antes que as "pequenas coisas" se tornem barreiras intransponíveis. Afinal, fugir do agora só adia o inevitável, mas nunca o elimina.
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