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Medicalização.



Às vezes, é preciso tomar remédio. Não estou aqui fazendo nenhuma defesa da indústria farmacêutica. Eu sei que muitos diagnósticos são fabricados; que há lucro absurdo nessa produção de tecnologias que "ajudam" pessoas que estão adoecidas; que nem sempre as pessoas que recebem diagnósticos estão num quadro de adoecimento. Mas a conversa não é sobre isso, a conversa é sobre quando a gente vai lá pedir ajuda.

Falando e pensando sobre minha história, recorrer a uma intervenção medicamentosa foi necessário a partir do momento em que eu entendi que os efeitos do meu sintoma estavam atrapalhando minha rotina e minha qualidade de vida. Não adiantava eu ser a pessoa mais ágil, mais multitarefa e não estar devidamente concentrado, estar com uma agitação fora do normal e notar meu sintoma se direcionando ao meu corpo.

Quando fui diagnosticado com ansiedade, pude nomear e entender melhor o porquê do meu pensamento acelerado, do aperto no peito, da sudorese, da taquicardia, da voz embargada, etc. Eu resisti muito a esse suporte químico, mas quando entendi que havia passado do meu limite, não só recorri e me impliquei em buscar o cuidado nos mais diversos espaços, como pude me reconhecer como mais humano.

Nesse momento, entendi que a psicoterapia é importante para a gente tentar construir no nosso modo de vida o amparo que tentamos encontrar na medicação. A química pode cuidar do sintoma físico, dando mais condição de gerir suas decisões, mas não resolve o que é gatilho para o adoecimento. O remédio nos coloca numa condição mais estável para que, a partir daí, a gente consiga mexer justamente nesse contexto que precisa ser repensado, reorganizado, para se construir a melhora. E isso a gente não consegue fazer quando se está no meio de uma crise. É preciso de ajuda química para que o corpo se estabilize, para conter os sintomas, para que a gente se sinta mais confiante e seguro. Dormir bem, estar com o apetite regular, intestino funcionando e nível de hormônio de estresse moderados são critérios básicos para que possamos seguir o autocuidado com mais dignidade.

Para transformar o que nos adoece, é preciso compreender o que nos adoece; talvez é só a medicação que conseguirá te conduzir a essa condição. O remédio não precisa e não deve ser a solução do problema, mas certamente pode ser parte importante do tratamento e do projeto de cura.


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