Opinião
A solidariedade entre pessoas que enfrentam as mesmas violências estruturais é uma necessidade urgente para a construção de um ambiente mais equânime. Quando indivíduos de grupos historicamente marginalizados, como negros, mulheres, LGBTQIAPN+ e outros, se unem para lutar contra as desigualdades, essa aliança se torna não apenas uma estratégia de militância, mas também de empatia. Ao vivermos em um contexto onde essas opressões estão profundamente enraizadas, é essencial que essas comunidades reconheçam a importância de se apoiar mutuamente, visto que o enfrentamento dessas violências exige uma força coletiva.
Em muitas ocasiões, somos convocados a dar nossas opiniões sobre situações que não colaboram necessariamente para uma luta coletiva.
Me marcou que certa vez Luana Xavier ao ser acionada para opinar sobre um artista negro acusado de agredir uma mulher disse com determinação que não o faria pois a sociedade já estava devidamente investida em açoita-lo.
É importante reconhecer que a estrutura social muitas vezes empurra membros de um mesmo grupo para se atacarem e assim enfraquecer a defesa de pautas políticas.
Não faltam exemplos de pessoas que ao se depararem com a defesa de direitos LGBTQIAPN+ trazem o exemplo de um fulaninho que depõe contra o coletivo, ou na luta antirracista criticam uma pessoa negra que teve conduta racista, ou na defesa de direitos de mulheres acionam a memória lembrando de uma tal que foi machista ou não teve sororidade.
A vigilância sobre condutas e o efeito das disputa de poder é mais nocivo para as minorias.
Assim, precisamos refletir sobre o impacto das nossas críticas, especialmente sobre grupos minoritários. Muitas vezes, ao expressarmos julgamentos superficiais, sem levar em consideração o contexto social e as especificidades de determinados grupos, dificultamos ainda mais o acesso dessas pessoas à igualdade de direitos.
As palavras podem reforçar estigmas, perpetuar estereótipos e, principalmente, enfraquecer o movimento de transformação que busca garantir dignidade e respeito a todos - e esse é o intuito da estrutura que visa manter tais hierarquias e hegemonias.
Ter atenção às críticas e formar alianças é fundamental para a criação de um espaço de solidariedade genuína. Mesmo quando temos críticas sobre o comportamento ou atitudes de indivíduos, é crucial lembrar que a luta contra as opressões deve ser prioridade. Quando dizemos que “preto não fala de preto”, “gay não fala de gay” ou “mulher não fala de mulher”, estamos refletindo sobre a necessidade de uma união entre membros de um mesmo grupo para fortalecer a luta, ao invés de nos deixarmos dividir por questões particulares.
A verdadeira mudança social demanda comprometimento coletivo em que as divergências individuais não sejam usadas como muros, mas sim como pontes para uma militância mais inclusiva e empática.
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