Paixão
- Walter Miez
- há 9 minutos
- 1 min de leitura

Alguns teóricos afirmam que nos apaixonamos justamente pela falta que o outro revela em nós. Que o desejo se sustenta no vazio, no que não se realiza, no que escapa. A paixão, assim, se alimentaria de ausências, do que o outro não entrega, do que não conseguimos possuir ou completar. Supostamente, nos manteríamos desejantes quando somos deixados em lugares de espera, de demanda, de ausência de resposta. Há, nesse olhar, uma espécie de fascínio pelo impossível, pelo que falta e nunca se dá por inteiro.
Mas também é possível outro caminho. Acredito que podemos reinventar o desejo dentro de uma relação, sem depender apenas da frustração ou da falta. O desejo não precisa morrer com o cotidiano ou com a convivência mais constante, ele pode ser transformado. A paixão pode ser alimentada por aquilo que criamos juntos, pelas experiências que compartilhamos, pelo que escolhemos viver de forma consciente e criativa no vínculo.
Rituais cotidianos, como preparar uma refeição juntos, assistir uma série ou filme, fazer uma atividade ao ar livre, também alimentam o amor. Da mesma forma, abrir-se ao novo, experimentar, viajar, dançar, testar o corpo, a escuta, o toque, pode ser combustível para a excitação afetiva e sexual.
O desejo não precisa viver apenas daquilo que nos falta. Ele também pode florescer naquilo que construímos a dois, no espaço seguro onde ousamos, erramos, brincamos e nos reinventamos. Amar também é isso: cultivar a vitalidade do encontro com cuidado, presença e imaginação.
Comments