Recolhimento
- Walter Miez
- 1 de fev.
- 2 min de leitura

Quando se leva uma vida muito demandante e com poucos recursos de prazer, estamos mais vulneráveis a processos depressivos e ansiosos. O peso das responsabilidades, das dificuldades cotidianas e da falta de espaço para o bem-estar nos torna mais propensos a buscar no isolamento algum repouso ou blindagem desses excessos. Nesse cenário, cada oportunidade de “evitar a fadiga” parece valer a pena. Isso diferentemente de ser caseiro, é um movimento de retração, uma tentativa de escapar do mundo lá fora.
O isolamento não é apenas uma preferência por estar em casa, é um sinal de que algo dentro de nós não está em harmonia. Quando a vida é marcada por percalços constantes, com poucos momentos de prazer e alívio, o desequilíbrio se torna evidente. O desgaste emocional nos empurra para a reclusão, onde acreditamos encontrar proteção frente aos dilemas da vida. Entretanto, esse isolamento é um terreno perigoso. Embora possa parecer uma solução momentânea, ele nos distancia ainda mais das possibilidades de experiências que poderiam trazer leveza, alegria e significado.
Por outro lado, quando a vida, apesar de seus desafios, também é permeada por momentos de prazer, conforto e bem-estar, encontramos um ponto de equilíbrio. O desgaste do dia a dia é calibrado por experiências positivas, e assim, conseguimos seguir em frente com mais serenidade. Quando nos permitimos vivenciar momentos de alegria e descanso, a percepção da vida muda. Sentimos que o peso dos problemas é compensado por instantes de conforto, risos e leveza.
Nesse equilíbrio, estar em casa deixa de ser uma fuga e passa a ser uma escolha. Elegemos o recolhimento como uma forma de nutrir o corpo e a mente, como um espaço de conforto e paz. A casa deixa de ser uma fortaleza contra o mundo e se torna um refúgio voluntário, um lugar de descanso e renovação. A diferença é sutil, mas essencial: não nos escondemos, apenas escolhemos nos recolher.
É fundamental cultivar experiências que tragam equilíbrio. Encarar os desafios da vida é inevitável, mas abrir espaço para os momentos de bem-estar é o que nos fortalece para seguir adiante. Quando a vida é boa, podemos escolher estar recolhidos pelo prazer do conforto, e não pela necessidade de nos esconder do mundo. O equilíbrio está na harmonia entre enfrentar os desafios cotidianos sem inibir momentos que flutuem entre o descanso e a busca pelo contentamento.
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