Vida e morte
A crítica ao utilitarismo na vida e na felicidade surge da percepção de que estas não devem ser medidas apenas pelo prazer ou pela ausência de sofrimento, mas sim por um sentido mais profundo, que transcende a mera acumulação de benefícios imediatos. A vida humana, nessa perspectiva, é valiosa em si mesma, independentemente de sua utilidade para um fim específico. Isso nos leva à dimensão espiritual, onde muitos encontram o propósito da existência em algo maior, seja em crenças religiosas, filosóficas ou em valores éticos que orientam a busca de um bem comum ou uma verdade transcendente.
Contudo, quando olhamos para os acordos culturais sobre a vida, entramos em um terreno complexo. O tabu contra a morte voluntária está profundamente moldado por influências religiosas, sociais e éticas que valorizam a vida como um dom inviolável. Este valor cultural, embora proteja a vida, também pode impor uma obrigação de viver mesmo quando a existência se torna insuportável para alguns.
Neste contexto, conciliar essas ideias exige reconhecer que a vida, enquanto não utilitarista e imbuída de significado espiritual, ainda é um direito, não uma obrigação. A vida deve ser uma escolha, respeitando a autonomia individual e a dignidade humana. Isso não significa que se deva encorajar a morte, mas sim oferecer às pessoas espaço e condições para que elas possam, dentro de um contexto de reflexão ética e espiritual, consolidar sua dignidade e decidir sobre o próprio destino sem a imposição de valores que possam não refletir sua realidade interna.
Portanto, o desafio é criar uma sociedade que valorize a vida sem instrumentalizá-la, que respeite o sentido existencial atribuído a ela por cada indivíduo, e que permita que sua decisão seja tratada com a profundidade e o respeito que merece, considerando tanto a liberdade individual quanto as responsabilidades coletivas. A vida pra ser vivida demanda justiça social e cidadania para todas(os).
Opmerkingen