Espelho

Se você já passou pela experiência de escutar sua própria voz gravada e achou estranho, não se preocupe, isso é completamente normal. Estamos acostumados a ouvir nossa voz de dentro para fora, através da ressonância dos ossos do crânio, o que dá uma sonoridade mais encorpada. Quando nos escutamos em uma gravação, estamos ouvindo a projeção real da nossa voz, como os outros a percebem. Essa diferença pode ser desconfortável no início, mas revela um fenômeno interessante sobre a forma como construímos nossa autoimagem.  

O mesmo acontece com fotos, vídeos e até o reflexo no espelho. Muitas vezes, nos sentimos desconfortáveis ao nos vermos registrados porque somos excessivamente críticos com nossa aparência, postura ou desempenho. A forma como nos enxergamos internamente nem sempre corresponde à imagem captada, o que pode gerar uma sensação de disforia. Essa distorção da imagem pode nos afastar do contato conosco. Em alguns casos pessoas evitam se olhar no espelho ou em fotos desconfortáveis com a possibilidade de não ser o que gostariam.  

O corpo é um lugar onde as questões da emoção se manifestam não só como trauma, mas também como libertação. A relação com a própria imagem pode ser trabalhada de forma positiva. O contato com a própria imagem e a coragem de fazer registros de si pode parecer vaidade, mas também é uma forma de autoprestígio e valorização pessoal. Criar o hábito de documentar nossas experiências nos permite acompanhar mudanças, celebrar conquistas e construir um acervo de nossa história.  

Os filtros e edições podem distorcer um pouco a realidade, mas o hábito de registrar imagens ainda tem um impacto positivo. Em academias, por exemplo, os espelhos ajudam a notar o desenvolvimento do corpo, corrigir posturas e reforçar a motivação. No fim das contas, interagir com a própria imagem pode ser um exercício de aceitação e reconhecimento da nossa jornada.

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