O cuidado com a dor é linear?
- Walter Miez
- 23 de mar.
- 2 min de leitura

Por vezes, ao nos depararmos com alguma situação que nos abala e entristece, criamos a ideia de que tudo o que devemos fazer é esperar que o grande mal-estar do início diminua até se dissipar. Imaginamos que o tempo, por si só, será suficiente para curar as feridas. Esquecemos, porém, que a vida não é um processo linear — e tampouco o é o cuidado com a dor. Não há uma trajetória previsível ou uma linha reta entre o sofrimento e a superação. A passagem dos dias pode, sim, trazer alívio, mas não garante entendimento, elaboração ou transformação.
A dor emocional não segue uma progressão constante. É comum haver avanços e recuos, dias de calma seguidos por dias de angústia, momentos de clareza alternando com confusão. Oscilações no humor e na energia fazem parte do percurso de quem enfrenta o luto, a perda, a frustração ou qualquer tipo de ruptura significativa. Por isso, não há como afirmar com certeza que amanhã estaremos melhores do que hoje. Mas o que podemos cultivar é a consciência de que cada passo, mesmo os que parecem retrocessos, faz parte de um processo mais amplo de cuidado e resiliência.
A psicoterapia surge, nesse contexto, como um espaço fundamental para acolher essa complexidade. Ela nos convida a olhar com mais profundidade para o impacto do que vivemos e para o modo como participamos da nossa própria reconstrução. Ao repensar escolhas, práticas, lugares, vínculos e projetos, começamos a dar novos sentidos ao sofrimento. Com isso, não apenas enfrentamos a dor, mas descobrimos recursos internos, reconhecemos nossas fragilidades e acessamos potências que, muitas vezes, estavam silenciadas.
Cuidar de si, portanto, não é um ato pontual, mas uma construção constante — e, acima de tudo, não-linear.
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