Romance
- Walter Miez
- 8 de fev.
- 2 min de leitura
Talvez os romances ocupem um lugar tão central em nossa cultura porque, através deles, permitimos que alguém não apenas acesse nossa intimidade, mas o faça de maneira constante. Diferente dos amigos com os quais, apesar da intimidade, não tendemos a construir grandes projetos, o romance carrega a particularidade de um envolvimento contínuo e costurado por projetos e expectativas. Ao nos relacionarmos romanticamente, mesmo que inconscientemente, acessamos ideias sobre estar e permanecer com essa pessoa, projetando um futuro compartilhado.
O romance não é apenas uma experiência emocional ou uma troca de afeto. Ele carrega consigo a promessa de um “nós”, de um projeto comum que transcende o indivíduo. Muitas vezes, esse projeto se desdobra na ideia de formar uma nova família. E essa nova família, mesmo que idealizada, está frequentemente comparada às dinâmicas da nossa família de origem.
No romance, surge a possibilidade de repetição ou transformação. Alguns buscam recriar os padrões vividos em sua família nuclear, repetindo os gestos, os afetos e as dores que lhes foram familiares. Outros, por outro lado, enxergam no romance a oportunidade de cura, de ressignificar aquilo que foi vivido. Buscam, consciente ou inconscientemente, um caminho que os liberte de feridas antigas ou que os conduza para algo novo e mais saudável.
Romances, então, são muito mais do que encontros de corpos ou afinidades. Eles nos colocam diante da nossa história, dos nossos medos e do desejo de construir algo que vá além de nós mesmos. Talvez seja por isso que os romances nos marcam tanto: porque nos permitem sonhar, criar e viver em conjunto, ao mesmo tempo em que nos confrontam com aquilo que somos e com aquilo que queremos ser.
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