Silêncio homofóbico
- Walter Miez
- há 1 dia
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A política "Don’t ask, don’t tell" (Não te pergunto, você não fala) foi uma diretriz adotada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos em 1993, que permitia que pessoas LGBTs servissem no exército, desde que não revelassem sua orientação sexual. Ao mesmo tempo, proibia que comandantes investigassem ou questionassem a sexualidade dos soldados. À primeira vista, poderia parecer um compromisso “neutro”, mas, na prática, era uma imposição de silêncio e apagamento. Quem ousasse viver sua verdade publicamente ainda corria o risco de ser expulso.
Esse tipo de acordo não ficou restrito ao exército. Ele reflete um padrão perigoso na sociedade, onde certas identidades só são toleradas na condição de permanecerem invisíveis. Isso significa que não há, de fato, aceitação, mas apenas uma convivência superficial, que exige que o outro se molde à conveniência alheia.
Ser cidadão pleno não é apenas existir dentro da lei, é ter o direito de viver a própria vida publicamente, sem precisar esconder partes essenciais de quem se é. O problema desse silêncio forçado é que ele não protege; ele oprime. Ele ensina que ser verdadeiro é um risco e que, para evitar conflitos, o melhor é apagar-se. Mas ninguém deveria precisar escolher entre aceitação e autenticidade.
O maior perigo das relações supostamente amistosas que impõem esse tipo de pacto é que elas mascaram a exclusão. Elas dão a ilusão de que há espaço para todos, quando, na realidade, esse espaço vem com condições: seja discreto, não incomode, não traga sua verdade para o mundo. Mas existir não deve ser um ato de concessão, deve ser um direito inegociável. O silêncio pode parecer um acordo de paz, mas, na verdade, é uma forma sutil de opressão. O verdadeiro respeito não exige invisibilidade; ele celebra a liberdade de ser, de falar e de viver sem medo.
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