Só por hoje
Desejo e autocuidado não são dimensões que estão sempre em conflito. Contudo, tomar decisões difíceis, como não faltar à atividade física, resistir ao excesso de um alimento, ao cigarro ou ao uso constante das redes sociais, frequentemente nos coloca em um impasse entre o desejo e o autocuidado. O desejo, com sua urgência, nos chama para o prazer imediato, enquanto nossa consciência aponta para a importância de cuidar de nós mesmos a longo prazo. Nesse contexto, escolher “só por hoje” ou "só por agora" seguir o caminho do autocuidado pode ser uma solução valiosa.
Quando decidimos "só por hoje" resistir a um determinado impulso e optar pelo autocuidado, estamos nos libertando da pressão de fazer dessa escolha uma obrigação permanente. Ao invés de nos aprisionarmos à ideia de uma mudança definitiva, permitimos que a decisão seja apenas para o momento presente. Isso torna o processo menos tirânico e mais acessível. Embora a princípio essa escolha possa nos frustrar ou até mesmo gerar desconforto por contrariar o desejo, passado o momento de tensão, percebemos que foi uma decisão acertada.
Ao optar pelo autocuidado "só por hoje", estamos cultivando uma consistência que pode transformar nossa relação com o desejo ao longo do tempo. Cada vez que fazemos essa escolha, mesmo que seja por um curto período, estamos treinando nossa mente e nosso corpo a se habituarem a essa nova direção. E, curiosamente, quanto mais vezes fazemos isso, mais possível é negociar com o desejo, escolhendo, de maneira crescente, o autocuidado sem tanto esforço.
Assim, a constância dessas pequenas decisões diárias cria uma base sólida para mudanças duradouras. O que antes parecia extremamente difícil vai, aos poucos, se tornando mais natural. E essa prática de escolher o autocuidado “só por hoje” nos mostra que o equilíbrio entre desejo e bem-estar é algo possível, construído passo a passo, sem pressa ou pressão, mas com a suavidade de quem sabe que cada pequena escolha importa.
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